quinta-feira, 26 de maio de 2011

Mallick

É hoje a estreia!

(isto tem estado um pouco parado por n motivos que me roubam o tempo e disponibilidade, mas não é, espero, uma situação definitiva)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Z.P.G. (1972)

Num futuro não muito distante, a população humana chegou a limites incomportáveis. O ambiente está praticamente destruído, existe um smog pesadíssimo sobre as cidades, a maioria das espécies estão extintas, o alimento é racionado. O regime político mundial tomou a decisão de proibir o nascimento de bebés durante 25 anos para conter o crescimento populacional.

Três anos se passam. Ter bebés tornou-se o pior crime social. Para conter os problemas sociais e psicológicos, o sistema providencia crianças robots às mulheres mais novas. Estes robots possuem alguma capacidade vocal e motora, chamando pela mãe, pedido afecto e até sendo capazes de simular doenças.

Para além disso, cada casa, em pelo menos uma das suas paredes, permite que o sistema político tenha acesso ao interior para falar com quem lá habita. Isto ajuda a um maior controlo e monitorização do estado mental dos cidadãos, nomeadamente às mulheres que sofrem com a política de crescimento negativo. O filme mostra como é comum o uso de técnicas de lavagem cerebral para forçar a mulheres a seguir o seu papel de mães fictícias em relação às crianças robot.

Carol McNeil (Geraldine Chaplin: The Age of Innocence, Hable con Ella, The Wolfman) vive uma vida normalizada. Trabalha com o marido, Russ McNeil (Oliver Reed: The Devils, The House of Usher, Gladiator) e com um casal vizinho, no museu do século XX onde recriam cenas familiares da década de 70 (e onde se podem ver raros exemplares de plantas e muitos animais embalsamados).

Carol tem um desejo muito forte de ter um bebé. Apesar de tudo o que lhe dizem ao contrário, apesar do perigo de morte que esse acto enfrenta, apesar da aparente indiferença do marido. Carol não consegue admitir a derrota que o seu pai, um antigo pediatra, demonstra: "If this is living, I'm alive"

This is your only reality

Z.P.G. significa Zero Population Growth (na verdade, sem nascimentos, a população começaria a decrescer rapidamente) e é um filme distópico muito subvalorizado e quase esquecido. O argumento foca problemas relacionados não muito distantes da nossa própria realidade: o crescimento populacional e a questão da poluição e destruição dos recursos naturais. Na questão do controle de natalidade, o filme antecipou a medida aplicada desde 1978, na China, à restrição de nascimentos. Se bem que o primeiro problema era muito pior da década de 1970, já que o crescimento populacional está a decrescer, a questão dos recursos naturais continua muito actual, infelizmente. A resposta sugerida no filme tem a ver com uma atmosfera irrespirável, mas hoje pensa-se que os maiores problemas virão do aquecimento generalizado que o planeta está a sofrer e cujas consequências não se conseguem prever (e como só temos um ecossistema, talvez não devêssemos brincar muito com a sua dinâmica).

Há quem veja ligações entre este filme e o posterior Logan's Run, como se se passassem na mesma realidade: o sistema social falido, um ecossistema destruído, e pessoas a tentar encontrar-se entre a limitada liberdade que conseguem criar. Na minha opinião, Z.P.G. é um pouco melhor que Logan's Run mas a sua fama é muito menor. Em relação ao top distópico que fiz recentemente (só descobri Z.P.G. depois de a fazer) colocaria este filme no segundo terço da lista.

[spoilers]

A meio do filme, quando o bebé nasce e é descoberto pelo casal amigo, o enredo muda de foco para o conflito entre as duas mulheres, uma mãe contra uma mulher que sofre uma intensa depressão pela falta de filhos e que vê nesta situação uma oportunidade de recuperar a sua sanidade. Esta tensão psicológica, que relega o tecido social para segundo plano até quase ao fim do filme, aumenta o interesse e valor do filme. No fim do filme, o casal McNeil consegue fugir da aplicação da pena de morte, dado que o seu crime é descoberto, e foge para o que parece ser uma terra de ninguém. Ao mesmo tempo desolado (como se tivesse ocorrido, há muito tempo, uma guerra nuclear) mas também portador de alguma esperança, já que se percebe que o sistema ditatorial deve ter como âmbito o domínio das cidades, e onde eles terminam até a atmosfera é respirável. Como resposta ao psicólogo, Carol poderia dizer: "There are other realities".

Mais um bom exemplo da excelente década para a SciFi que foram os anos 70.



Imdb: http://www.imdb.com/title/tt0069530/

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Filmes Imaginários: A Nave Invencível

Este é o início de uma secção sobre livros de SciFi que nunca foram adaptados a cinema mas que poderiam resultar em excelentes filmes. A relação entre romances e cinema nos géneros do terror e da ficção científica é já muito antiga. Frankenstein de 1910, Dr. Jekyll and Mr. Hyde de 1912 ou o Golem de 1915 são os primeiros exemplos mais famosos. Pelo menos estes estão livres da camisa de forças cultural que é o copyright e podem ser vistos (aqui, aqui e aqui).

Frankenstein de 1910

Muitos autores seminais do género, como Edgar Allen Poe ou Lovecraft, Mary Shelley ou Bram Stoker, têm sido adaptados repetidamente para filme. O mesmo aconteceu na SciFi, desde os clássicos de Júlio Verne ou H.G.Wells. Alguns autores têm sido muito adaptados, em detrimento de outros, havendo uma forte tendência na escolha de autores de língua inglesa.

Stanislaw Lem é um autor polaco de SciFi, cuja maior parte da sua obra decorreu entre os anos 60 e 80. Autor de excelentes histórias, a mais conhecida é Solaris, duplamente adaptada ao cinema por Andrei Tarkovsky e Steven Soderberg. Os enredos de Lem focam principalmente as questões do conhecimento e da comunicação entre diferentes espécies inteligentes (até em Solaris é esse o tema de fundo, onde a trama se desenvolve). Normalmente, Lem é pessimista. Ele considerava que demasiado nos separa para que uma comunicação efectiva, com algum significado, se estabeleça. Um livro exemplar desta dificuldade é Fiasco, uma das suas últimas obras de ficção (e publicada pela Europa-América na colecção Nébula).

Stanislaw Lem

Mas, se exceptuarmos a Polónia, Lem não tem servido de inspiração para cineastas. Há uma série alemã sobre as aventuras de Ijon Tichy, as referidas adaptações de Solaris e praticamente mais nada. Um dos livros que melhor se adaptaria ao cinema é "Niezwyciezony", conhecido aqui como "A Nave Invencível" título da edição portuguesa da colecção Argonauta (nº264).

Claro que os posts desta secção são apenas um motivo para vos levar a ler os respectivos livros. Mas talvez vos convença que, se bem feito, esta história daria um excelente filme de SciFi. Se Lem em vez de polaco fosse americano, creio que já teríamos uma adaptação para livro (e eventual remake). Injusto, mas as coisas são como são...

O romance começa com um cruzador de guerra terrestre a aterrar no planeta Regis III . O objectivo da missão é investigar o desaparecimento da sua nave irmã, Condor. O planeta parece desabitado, deserto, sem vida, o que adensa o mistério. As naves em questão são extremamente poderosas e, se fosse um inimigo a razão da sua destruição, este teria de ser muitíssimo perigoso.

No decorrer do livro a tripulação percebe que existe, de facto, um perigo à superfície do planeta. Só que não é vivo, nem é propriamente um inimigo. O planeta está infectado por enxames de nano-máquinas que destroem tudo o que se lhes depara à frente. E à sua frente encontra-se uma nave invencível para derrotar. A segunda.

O livro discute a questão da nanotecnologia, em 1964, antecipando em muito, na ficção, este tema tecnológico. Hoje em dia é comum encontrar nanotecnologia em filmes e romance. Por exemplo, o remake do The Day The Earth Stood Still usa enxames de nano-máquinas como arma de destruição, outros filmes recentes são I, Robot, Doom ou Terminator 3. Nos romances, talvez o mais conhecido seja Prey de Michael Crichton, havendo também o The Diamond Age do escritor cyberpunk, Neal Stephenson. O jogo de computador Crysis usa bastante este conceito. Mas pouco ou nada disto se falava em 1964.

Lem discute a possibilidade do planeta ter assistido ao que, hoje em dia, se chama uma Singularidade Tecnológica. Normalmente imagina-se esta situação com o advento de uma inteligência artificial mais inteligente que o Homem. Esta IA é então capaz de criar outra IA ainda melhor, e assim sucessivamente, até que a Humanidade perde totalmente o controlo da situação e é ultrapassado por uma gama de acontecimentos exponencialmente mais rápidos (e provavelmente acaba mal). Mas existe a possibilidade de isto ocorrer através de robots tão simples como bactérias. Este processos também podem ultrapassar os seus criadores orgânicos, porque possuem a capacidade de auto-replicação e podem, supõe-se, evoluir de forma Lamarckiana, ou seja, usando a experiência como padrão para criar a próxima geração.
Isto significa que a evolução natural é acelerada milhões de vezes, tendo uma quase ilimitada capacidade de adaptação. E essa característica pode permitir vencer a batalha contra os seus criadores, até contra robots maiores e individualmente mais poderosos. Como vencer um vírus que, em comunicando com os seus vizinhos, decide como evoluir?

Ambas as situações são exemplos da Lei das Consequências não Antecipadas, que basicamente diz ser impossível prever os eventos produzidos por um sistema suficientemente complexo. Um filme que usa esta temática é o Jurassic Park de Spielberg (adaptado de um outro livro de Crichton).

A questão da auto-replicação mecânica é um assunto estudado desde o trabalho de John von Neumann sobre autómatos replicantes na década de 40, e tem dado pequenos passos desde então. Uma das possibilidades para a futura exploração espacial seria enviar sondas para outros sistemas solares e, quando lá chegassem, criariam, a partir dos recursos locais, cópias de si mesmas para serem enviadas para os sistemas vizinhos. Desta forma, dado suficiente tempo, poderia ser possível explorar a galáxia com impacto económico mínimo.

Mas voltando ao livro. Num dos capítulos mais cinematográficos, o comandante da nave decide enviar a sua unidade de combate mais poderosa para lutar contra o enxame, o enorme robot de guerra, Ciclope, com praticamente ilimitado poder de fogo (mas não suficiente, suspeito, para derrotar a situação financeira portuguesa).


Quando o enxame detecta Ciclope, começa uma batalha de enormes proporções. O robot é capaz de destruir biliões de unidades individuais, mas os tripulantes da nave observam com apreensão o aparecimento de nuvens e nuvens de mais nano-máquinas. São triliões e triliões de unidades individuais que sobrecarregam as armas de Ciclope até ele se descontrolar e tornar-se caótico, pondo em perigo até a integridade da própria nave, que se vê obrigada a destruí-lo (aqui há traços literários do velho monstro Frankenstein e de como a tecnologia se pode virar contra o seu criador).

Por fim, a tripulação percebe que este inimigo não é um inimigo. O que eles estiveram a lutar foi contra o actual ecossistema do planeta e que, assim, aquela luta não tinha qualquer sentido. No Moby Dick, Herman Melville diz-nos que não faz sentido uma pessoa vingar-se de um animal. O mesmo se pode dizer de um enxame.

sábado, 9 de abril de 2011

Distopias Top 25 (3/3)

É difícil chegar aos melhores filmes e ordená-los por preferência. Quando a qualidade é comum e muito elevada, as diferenças são demasiado pequenas para estabelecer um ranking sólido. Se tivesse escrito isto noutro dia, a ordem final do top poderia ter sido diferente. Mas qualquer um destes filmes merece ser visto e revisto.
9
Dark City (1998)
Alex Proyas tem realizado vários filmes interessantes no género fantástico mas o seu melhor continua a ser Dark City. Uma cidade sob uma noite eterna, impossível de escapar, uma população apática perante estes estranhos eventos, memórias falhadas, e algo mais profundo a descobrir pelo protagonista. Neste filme, o personagem principal é a própria cidade. Antecipando Matrix por um ano, o enredo discute também o que é a realidade, que diferenças existe entre aquilo que percepcionamos e experimentamos por um lado, e o que realmente existe por outro. O mapa não é o território.
8
Fahrenheit 451 (1966)
François Truffaut a realizar uma adaptação de SciFi de Ray Bradbury, um escritor americano! O título refere a temperatura à qual o papel começa a arder (na verdade é em graus Celsius e não em Fahrenheit, mas soava melhor ao autor). O enredo passa-se numa cultura totalitária onde a leitura é proibida por lei. A cultura é prioritariamanete televisiva e superficial, procurando a estupidificação das massas como forma de manter o regime. Esta estrutura tem ecos no passado remoto -- o index religioso da Idade Média --, do passado recente -- a queima de livros pelos Nazis --, e infelizmente é bastante actual considerando o estado dos media televisivos com conteúdo mental nulo. A única diferença é que não se queimam livros. Não é preciso.
7
Children of Men (2006)
A destruição do ecossistema político e uma excelente realização que nos acompanha por essa desolação. O Mr.Red já falou deste filme.
6
V for Vendetta (2006)
"Remember, remember, the Fifth of November". Adaptado de um enredo de Alan Moore (com grafismo de David Lloyd), este filme foi produzido pelos irmãos Wachowski mundialmente famosos pela realização de Matrix. Num mundo em desintegração e numa Inglaterra sobre o jugo fascista, V é um anarca que pretende implodir o sistema através da acção conjunta dos cidadãos. V é representado magistralmente por Hugo Weaving, sempre escondido por uma máscara e em regime Kabuki. Um belíssimo filme sobre liberdade e opressão. 2006 foi uma boa safra no género distópico.
5
A Clockwork Orange (1971)
O filme de Kubrick adaptado do romance de Anthony Burgess sobre a violência e a ética do seu controlo. Observamos a trajectória destrutiva de um grupo de delinquentes e a subsequente resposta de um Estado totalitário, depois do protagonista ser preso e sugerido para uma técnica experimental de lavagem ao cérebro. Um filme já clássico, como muitos dos filmes de Kubrick.
4
Brazil (1985)
A obra-prima de Terry Gilliam. Numa distopia futurista, um erro administrativo (causado por uma mosca!) produz efeitos muito nefastos à saúde de várias pessoas. Gilliam é capaz de nos mostrar cenários lindíssimos e de transmitir a opressão arbitrária, Kafkiana, de um sistema totalmente opaco e indiferente à pessoa humana. Tudo isto com algum humor remanescente da sua experiência nos Monty Python.
3
The Trial (1962)
Orson Welles a adaptar Franz Kafka com Anthony Perkins como Josef K. Uma combinação de luxo entre cinema e romance. Wells consegue, com pouquíssimos recursos, transmitir a atmosfera claustrofóbica da história de Josef K., um dia acordado e acusado pela polícia. Estes dizem estar K. acusado de um processo mas não lhe dizem sequer o assunto da acusação. O tema é o abuso da lei pelos agentes da lei e o quão podemos nos tornar indefesos perante estas forças sem rosto. Kafka escreveu O Processo antes dos pesadelos totalitários de Hitler e Stalin. Mas mais do que profético, estes abusos são transversais a todos os sistemas de governo, mesmo nas nossas democracias representativas. Com o aumentar de complexidade legal e social, com o acumular de recolha de informação privada e o cruzamento dessa informação em bases de dados obscuras, o aviso de Kafka é mais moderno que o Big Brother de Orwell.
2
Metropolis (1927)
A nossa visita a uma Utopia futura, onde as classes mais ricas vivem do trabalho da esmagadora classe de trabalhadores escravos. Dominados e controlados, estes trabalhadores são apenas a parte orgânica de uma grande máquina que, indiferente, produz o que tem de produzir. Um filme seminal de SciFi e do género distópico. Infelizmente, Fritz Lang viu a sua obra-prima retalhada por editores braindead, que a desfiguraram para ir ao encontro do gosto americano da altura. Durante 80 anos procurou-se a versão original que só foi encontrada em 2008, num museu de cinema argentino. Finalmente podemos ver a versão original quase completa de um dos filmes mais influentes de todos os tempos.
1
Nineteen Eighty-Four (1984)
A melhor adaptação do livro de Orwell. Orwell foi um jornalista, activista e um pensador político que marcou o meio do Século XX. O principal da sua obra é uma reflexão sobre os perigos dos sistemas totalitários (algo comum, na altura, entre nazis e comunistas), sendo 1984 a sua obra-prima ficcional. O filme é bastante fiel ao livro e consegue transmitir a desolação psicológica de alguém constantemente vigiado (até em casa há câmaras que o observam), reduzido a um número, a um algoritmo que se inicia de manhã e termina, exausto, à noite. Felizmente para nós, este tipo de sociedade falhou, e está hoje um pouco mais longe do que estava na época de Orwell. Claro, outras possibilidades inimigas da liberdade podem ainda acontecer. Esse é o papel social principal deste género literário e cinéfilo: manter-nos alertas.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Foi há 30 anos

Filming in his beloved Ireland (County Kerry and Wicklow), it’s impossible to underestimate the power of the imagery in Excalibur. Boorman’s Britain is a Celtic hybrid where people speak in Welsh, Irish, Cornish and Scottish brogues, where pagan necromancy is disappearing in favour of Christianity and the central ethos is of harmony with nature; 'you and the land are one', Arthur is told. The use of green, in particular, is quite astonishing, none more so than in the ethereal lighting seen throughout not only the woods but inside the castles and even reflected in the pristine shine of the armour and of Excalibur itself. A symbolism at its most potent in one of the most beautiful, symbolic sequences ever filmed, as Arthur leads his knights from Camelot for the last time to their date with destiny, riding through a barren landscape when the flowers and trees magically transform themselves into full bloom as the rejuvenated king leads his knights through a row of budding blossom trees. All accompanied by the greatest ever use of Carl Orff’s immortal ‘O Fortuna’ as could be offered. - Allan Fish, Wonders in the Dark [via The Dancing Image]

terça-feira, 5 de abril de 2011

Distopias Top 25 (2/3)

17
Robocop (1987)
Robocop foca a dissolução da sociedade civil e a ascensão de uma sociedade totalitária controlada por corporações. Paul Verhoeven tem dois filmes, Robocop e o horripilante Startship Troopers (que talvez entrasse nesta ordenação se fosse um Top 500), passados sobre num regime fascista onde a publicidade é usada como propaganda. No caso do Robocop observamos a construção de um cyborg policial que se transforma num Batman com cuecas de titânio. Apesar disso, é um filme de culto dos anos 80 e com perfeita justiça. A animação stop-action do Enforcement Droid Series 209, se bem que um pouco mal feita (há stop-motion bem feita?), ainda me faz lembrar os calafrios que tive quando o vi e ouvi, pela primeira vez, no cinema: "You have 15 seconds to comply".
16
They Live (1988)
John Carpenter! Quem te viu e quem te vê... A década de 80 para este senhor do Terror conseguiu estar à altura do seu maior filme, Halloween de 1978. They Live é um grande filme de SciFi e é o meu quarto preferido dele dessa década! Para além do próximo da lista, ainda contamos com o The Fog e o espectacular remake The Thing. Mas divago. Quanto ao They Live: uma sociedade aparentemente normal que, nos bastidores e de forma subconsciente, está a ser levada à submissão política por uma máfia de extraterrestres. Uma clara analogia com os poderes instituídos (muito terrenos) que amansam a sociedade civil e os nossos direitos fundamentais. Tudo bem resumido e impresso nas notas de dólar: "This is your God".
15
Escape from NY (1981)
Este filme de Carpenter passa-se em 1997... O super duro Kurt Russell a fazer de hiper duro Snake Plissken. O crime nos EUA entrou em espiral e decidiu-se fechar a ilha de Manhattan transformando-a numa prisão murada. Como se imagina a ordem social lá dentro não é a melhor possível. Acontece que o avião do presidente do país cai mesmo lá dentro e é feito refém. O único capaz de salvá-lo é The Snake que, com a promessa de liberdade, aceita a missão. Esta distopia é relativamente centrada na ilha, mas uma nação que decide tomar essa atitude não deve estar muito bem de saúde moral... Um conselho: não vejam a sequela!
14
Planet of the Apes (1968)
Charlton Heston... Não gosto lá muito do senhor Ben-Hur mas não consigo ver-me livre dele: já foi actor principal num filme referido aqui no blog e aparece duas vezes nesta lista. A primeira é este super clássico Planeta dos Macacos. Uma missão de quatro astronautas que chegam a um planeta depois de uma viagem relativista de 2000 anos. A nave tem um acidente e choca contra um planeta, onde um dos ocupantes morre. Felizmente para a tripulação, o planeta é respirável, tem vida e infelizmente é governado por macacos esclavagistas! Vistas as coisas assim, realmente o argumento parece estranho, mas é uma interessante perspectiva sobre as castas e a escravatura, a religião e o racismo. Deve ter a primeira cena de beijo entre um homem e uma mulher de outra espécie biológica que não um extraterrestre à lá Star Trek que só tem de diferente as pestanas ou as orelhas. O final é uma das cenas mais clássicas que é possível encontrar na história da SciFi. Este filme deu origem a umas mil sequelas. E outro conselho: não vejam o remake!
13
Mad Max (1979) / Mad Max 2 (1981)
Mel Gibson é Mad Max no filme dos filmes pós-Apocalípticos. A ordem social colapsou e as estradas são propriedade de gangs motorizados. A vida normal é substituída pela anarquia, a polícia pela vingança, o comportamento social pela loucura. Um road-movie e filme B australiano que, conjuntamente com a primeira sequela, se tornaram num êxito global. Tenham atenção porque, ao que parece, há uma versão dobrada muito mázinha em inglês americano (já que o inglês australiano é outra língua...). Com o sucesso do primeiro filme foi feita uma sequela, Mad Max 2: The Road Warrior, uma maior produção que conseguiu melhorar o filme original. Enfim, para não dar preferência a um sobre o outro, coloco os dois filmes nesta mesma posição (já o terceiro filme, com Tina Turner, não está à altura).
12
Soylent Green (1973)
E pronto, cá temos o Charlton Heston outra vez numa distopia. É o ano 2022 e só em NY habitam 40 milhões de pessoas. Este cenário faz lembrar os fantasmas da catástrofe Maltusiana que, felizmente, no mundo real, parece ter sido definitivamente afastada. Tanto a população está a estabilizar, como a produção agrícola tem tido níveis de produção muito maiores do que o esperado. Só que Soylent Green é uma visão do que poderíamos ser se Malthus tivesse razão. A comida passou a ser, não um bem de luxo, mas algo muitíssimo raro. A Soylent Corporation fornece um plancton como substituto alimentar. Mas de que será feito este novo plancton? Outro clássico dos grandes anos 70.
11
THX 1138 (1971)
Como alguém disse: "O Star Wars roubou-nos um dos mais imaginativos realizadores da nossa geração". Esta é a sua primeira longa. Passada no Século 25, conta a história de THX (Robert Duvall) a tentar escapar a uma sociedade que usa drogas para manter a população mansamente controlada. Realizado com poucos meios, Lucas consegue criar um bom filme. Dado o triste carácter revisionista de Lucas (que já adulterara a trilogia inicial polvilhando-a com algumas decisões infelizes), a versão do realizador foi lançada recentemente em Blue-Ray contendo polémicas alterações que, há quem refira (eu ainda não vi), fazem perder alguma da força da versão original (ele inclui novas cenas em CGI... wtf?). Ainda por cima, não está ser re-editada a versão original. Isto é estúpido porque existe a internet, e se há característica que define a internet é que ela não se esquece de nada.
10
Gattaca (1997)
A distopia eugénica por excelência. A tirania dos genes é agora total. Quer namorar alguém? Peça-lhe o seu ADN e verifique se vale a pena. Quer emprego? Não vale a pena escrever um curriculum. Os mais dotados geneticamente são os seleccionados para os cargos socialmente mais elevados. Qualquer pai que deseje sucesso aos seus filhos, selecciona artificialmente o conteúdo dos seus ADNs. Quem nasce sem selecção prévia é considerado de casta inferior e limitado a trabalhos meniais. O filme segue um desses azarados subgenéticos a enganar o sistema para entrar na academia espacial, um dos locais mais selectos da nova sociedade. Um filme muito bem feito, com participação especial de Gore Vidal e superiormente musicado por Michael Nyman.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Distopias Top 25 (1/3)

Tenho uma especial atracção por ficção e cinema sobre a questão distópica. A distopia, ou utopia negativa (como se a houvesse positiva) foca a dinâmica de uma sociedade falhada do ponto de vista da liberdade individual. Consideramos o homo sapiens um animal racional, com capacidade de tomar decisões e responsabilizar-se por elas. Uma sociedade que nega isso ao indivíduo, é uma sociedade que nega o indivíduo. Infelizmente, o século passado foi pródigo neste tipo de engenharia social, tanto em regimes fascistas como comunistas, que trouxeram uma quantidade de sofrimento por nós inimaginável. Não admira que o romance e o cinema tenham discutido e produzido arte nesta temática, já que os intelectuais são dos primeiros recrutados por esses sistemas para o justificarem às massas, e nada melhor que uma analogia ácida para responder à altura e mostrar o verdadeiro rosto de um regime totalitário.

Poderia sugerir uma boa dúzia de livros excelentes sobre o tema (leiam Orwell!) mas, sendo o Mr.Red um blog de cinema, escolhi mostrar aqui o meu top 25 possível de filmes sobre o tema. Há muitos mais filmes que poderiam ser incluídos mas creio que recolhi os mais significativos. Quanto aos critérios: deixei de fora os filmes de zombies (hei-de fazer um top só para estes senhores) ou os Last Man on Earth (que já falei aqui). Também não considerei as produções Japonesas como o Akira ou Battle Royale que ficam para a próxima. Tive também alguma resistência a colocar filmes SciFi demasiado clássicos com pano de fundo distópico, e que todos conhecem, como o Blade Runner, o Matrix e o Terminator (iam todos para o início do top, o que serviria de distração). Decidi também não incluir filmes como Modern Times de Chaplin ou o recente The Life of Others porque são... hmmm, demasiado reais?

Atenção, nem todos são bons, mas os fraquitos aparecem logo no início já que vou fazer um top decrescente. Alguns deles, como o Fatherland ou o The Handmaid's Tale estão aqui mais pelo livro de onde se inspiraram. Divido a lista em três posts. Ora aqui estão os filmes do 25º ao 18º:
25
Fatherland (1994)
Hitler ganhou a guerra da Rússia, conquistou e estabilizou o terreno até aos Urais e conseguiu uma paz podre com os Estados Unidos. A guerra fria é entre a Alemanha Nazi e o que sobrou do Ocidente. Estamos nos anos 60 e na véspera de um encontro internacional muitíssimo importante para o Reich. Rutger Hauer é um polícia SS que percebe que algo de muito estranho e secreto aconteceu com os judeus, 20 anos atrás, e decide investigar. O livro Fatherland, de Robert Harris (escritor mais conhecido pelos bestsellers sobre Roma Antiga) de onde este filme foi baseado é muito melhor que o filme. Apesar do tema da História Alternativa ser muito interessante (meninas e meninos: está a ser produzido para cinema o The Man in the High Castle do K.Dick) este filme podia ter sido muito melhor...
24
Equilibrium (2002)
Na nação da Libria vive-se uma sociedade sem emoções. Qualquer traço de alegria, tristeza, felicidade ou ódio, é um big mistake. A censura é geral e o povo anda dopado com um medicamento, Prozium, que lhes retira qualquer vestígio emocional. Para manter o status quo existe um corpo policial meio Ninja meio Man in Black (com evidente inspiração no Matrix). Só que o que acontece quando um dos polícias mais perigosos começa a interrogar-se sobre a justiça de tudo isto? O filme poderia ser muito mas muito melhor do que é. É pena, mas se for um maluquinho por filmes deste género, veja nem que seja para dizer mal.
23
The Handmaid's Tale (1990)
Eu sou um fã do livro da Margaret Atwood, uma escritora envergonhada de SciFi (ela está sempre a dizer que escreve ficção especulativa...). É um romance magnífico passado num futuro próximo, onde os USA se transformaram numa teocracia cristã à lá Taliban, e onde as mulheres são basicamente animais de procriação. É uma crítica devastadora tanto aos movimentos religiosos que subalternizam as mulheres (hmm... todos?) e ao machismo que os motiva e origina. Leiam o livro se gostam do género. Quanto ao filme, cosi cosi...
22
Brave New World (1980)
Um filme da BBC para televisão baseado no conhecido romance de Aldous Huxley. Um mundo pacificado pelas drogas, onde as emoções são obliteradas e o hedonismo incentivado. A sociedade é composta por cinco castas, desde os Alfas mais inteligentes e responsáveis pela sociedade, até aos Epsilons, escravos quase animalescos. O nosso personagem principal é um tipo que tem a mania de pensar (algo comum nesta lista). E essas coisas nunca acabam pacificamente. Este filme produzido pela BBC tem três horas de duração mas, inicialmente, foi visionado como uma mini-série de dois episódios no total de quatro horas. Não envelheceu bem mas consegue ser muito melhor que uma recente adaptação americana, de 1998, da mesma obra (mesmo depois de se saber que conta com o Leonard Nimoy). Podem ver a versão de três horas no Google Video.
21
Silent Running (1972)
Silent Running é um filme que se passa nos arredores da implícita sociedade distópica. Neste caso, a Humanidade conseguiu destruir o seu ecossistema por excesso de população (enfim, nada de ficção neste aspecto) e as últimas florestas sobrevivem no espaço em grandes naves espalhadas pelo sistema solar. O personagem principal, um botânico que toma conta do equilibro do sistema há vários anos, revolta-se contra a ordem insana vinda da terra de destruir todas as restantes florestas. Ele mata a tripulação e foge com a nave em direcção a Saturno. Um filme hippie que só ficou desactualizado nesse aspecto.
20
Logan's Run (1976)
Ano 2274. Uma sociedade perfeita. Prazeres, sexo, gente bonita, nada de crimes ou preocupações. Parece bem! Mas qual é o catch? Aos 30 anos somos mortos num ritual! Isso parece porreiro quando se tem 18 mas começa a comichar quando se tem 25. Quando se tem 29, a coisa já não tem piada. Claro que a maioria dos jovens nesta sociedade são perfeitamente idiotas e não se importam muito com o amanhã imediato. Mas quando se tem dois palmos de testa e se quer questionar o normal das coisas? Este é um dos filme de SciFi mais conhecidos da década de 70 e ainda um dos mais falados e referenciados. A não perder para os aficionados.
19
Twelve Monkeys (1995)
Terry Gilliam tem duas entradas nesta lista (suponho que conseguem antever qual é a outra). Num mundo devastado por um vírus, Bruce Willis é 'voluntariado' para uma viagem no tempo onde, no passado, deve tentar descobrir a origem da doença. Acaba por andar às voltas com o Brad Pitt num manicómio. Alucinado, insano, complicado e interessante como é típico de Gilliam. Este filme já tem 16 anos?? (argh!)
18
Rollerball (1975)
Estamos em 2018 (estas datas chegam depressa...) e o mundo é governado por corporações. Acabaram-se as guerras e os crimes (existe aqui algum optimismo) mas também se acabaram as várias liberdades. Existe um novo desporto das massas, o Rollerball, o novo jogo de gladiadores. Só que o Cristiano Ronaldo do sítio decide ter algo a dizer. Um bom filme.