sábado, 9 de abril de 2011

Distopias Top 25 (3/3)

É difícil chegar aos melhores filmes e ordená-los por preferência. Quando a qualidade é comum e muito elevada, as diferenças são demasiado pequenas para estabelecer um ranking sólido. Se tivesse escrito isto noutro dia, a ordem final do top poderia ter sido diferente. Mas qualquer um destes filmes merece ser visto e revisto.
9
Dark City (1998)
Alex Proyas tem realizado vários filmes interessantes no género fantástico mas o seu melhor continua a ser Dark City. Uma cidade sob uma noite eterna, impossível de escapar, uma população apática perante estes estranhos eventos, memórias falhadas, e algo mais profundo a descobrir pelo protagonista. Neste filme, o personagem principal é a própria cidade. Antecipando Matrix por um ano, o enredo discute também o que é a realidade, que diferenças existe entre aquilo que percepcionamos e experimentamos por um lado, e o que realmente existe por outro. O mapa não é o território.
8
Fahrenheit 451 (1966)
François Truffaut a realizar uma adaptação de SciFi de Ray Bradbury, um escritor americano! O título refere a temperatura à qual o papel começa a arder (na verdade é em graus Celsius e não em Fahrenheit, mas soava melhor ao autor). O enredo passa-se numa cultura totalitária onde a leitura é proibida por lei. A cultura é prioritariamanete televisiva e superficial, procurando a estupidificação das massas como forma de manter o regime. Esta estrutura tem ecos no passado remoto -- o index religioso da Idade Média --, do passado recente -- a queima de livros pelos Nazis --, e infelizmente é bastante actual considerando o estado dos media televisivos com conteúdo mental nulo. A única diferença é que não se queimam livros. Não é preciso.
7
Children of Men (2006)
A destruição do ecossistema político e uma excelente realização que nos acompanha por essa desolação. O Mr.Red já falou deste filme.
6
V for Vendetta (2006)
"Remember, remember, the Fifth of November". Adaptado de um enredo de Alan Moore (com grafismo de David Lloyd), este filme foi produzido pelos irmãos Wachowski mundialmente famosos pela realização de Matrix. Num mundo em desintegração e numa Inglaterra sobre o jugo fascista, V é um anarca que pretende implodir o sistema através da acção conjunta dos cidadãos. V é representado magistralmente por Hugo Weaving, sempre escondido por uma máscara e em regime Kabuki. Um belíssimo filme sobre liberdade e opressão. 2006 foi uma boa safra no género distópico.
5
A Clockwork Orange (1971)
O filme de Kubrick adaptado do romance de Anthony Burgess sobre a violência e a ética do seu controlo. Observamos a trajectória destrutiva de um grupo de delinquentes e a subsequente resposta de um Estado totalitário, depois do protagonista ser preso e sugerido para uma técnica experimental de lavagem ao cérebro. Um filme já clássico, como muitos dos filmes de Kubrick.
4
Brazil (1985)
A obra-prima de Terry Gilliam. Numa distopia futurista, um erro administrativo (causado por uma mosca!) produz efeitos muito nefastos à saúde de várias pessoas. Gilliam é capaz de nos mostrar cenários lindíssimos e de transmitir a opressão arbitrária, Kafkiana, de um sistema totalmente opaco e indiferente à pessoa humana. Tudo isto com algum humor remanescente da sua experiência nos Monty Python.
3
The Trial (1962)
Orson Welles a adaptar Franz Kafka com Anthony Perkins como Josef K. Uma combinação de luxo entre cinema e romance. Wells consegue, com pouquíssimos recursos, transmitir a atmosfera claustrofóbica da história de Josef K., um dia acordado e acusado pela polícia. Estes dizem estar K. acusado de um processo mas não lhe dizem sequer o assunto da acusação. O tema é o abuso da lei pelos agentes da lei e o quão podemos nos tornar indefesos perante estas forças sem rosto. Kafka escreveu O Processo antes dos pesadelos totalitários de Hitler e Stalin. Mas mais do que profético, estes abusos são transversais a todos os sistemas de governo, mesmo nas nossas democracias representativas. Com o aumentar de complexidade legal e social, com o acumular de recolha de informação privada e o cruzamento dessa informação em bases de dados obscuras, o aviso de Kafka é mais moderno que o Big Brother de Orwell.
2
Metropolis (1927)
A nossa visita a uma Utopia futura, onde as classes mais ricas vivem do trabalho da esmagadora classe de trabalhadores escravos. Dominados e controlados, estes trabalhadores são apenas a parte orgânica de uma grande máquina que, indiferente, produz o que tem de produzir. Um filme seminal de SciFi e do género distópico. Infelizmente, Fritz Lang viu a sua obra-prima retalhada por editores braindead, que a desfiguraram para ir ao encontro do gosto americano da altura. Durante 80 anos procurou-se a versão original que só foi encontrada em 2008, num museu de cinema argentino. Finalmente podemos ver a versão original quase completa de um dos filmes mais influentes de todos os tempos.
1
Nineteen Eighty-Four (1984)
A melhor adaptação do livro de Orwell. Orwell foi um jornalista, activista e um pensador político que marcou o meio do Século XX. O principal da sua obra é uma reflexão sobre os perigos dos sistemas totalitários (algo comum, na altura, entre nazis e comunistas), sendo 1984 a sua obra-prima ficcional. O filme é bastante fiel ao livro e consegue transmitir a desolação psicológica de alguém constantemente vigiado (até em casa há câmaras que o observam), reduzido a um número, a um algoritmo que se inicia de manhã e termina, exausto, à noite. Felizmente para nós, este tipo de sociedade falhou, e está hoje um pouco mais longe do que estava na época de Orwell. Claro, outras possibilidades inimigas da liberdade podem ainda acontecer. Esse é o papel social principal deste género literário e cinéfilo: manter-nos alertas.

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