I Am Legend é uma novela de horror de 1954 do escritor americano Richard Matheson.
A novela descreve um mundo pós-apocalíptico após uma praga ter eliminado praticamente toda a população humana. A personagem principal é Robert Neville que vive em Los Angeles e procura sobreviver tanto na recolha de víveres no dia-a-dia, como a evitar a comunidade de vampiros que controla a cidade durante a noite. Ele de dia é caçador e os vampiros presas. De noite os papéis invertem-se. Este post tem como objectivo apresentar as três principais adaptações do I Am Legend (sim, há pelo menos mais um remake...). E não esquecer que esta obra serviu de inspiração ao clássico zombie de 1968, Night of the Living Dead, do padrinho dos zombies, George Romero.
Como curiosidade, Matheson também escreveu, entre outras obras, duas novelas que derivaram em dois filmes clássicos: The Incredible Shrinking Man de 1957 e Duel de 1971 (o primeiro filme de Spielberg).
The Last Man On Earth (1964)
Dr. Robert Morgan (Vicent Price) é, aparentemente, o último homem na terra. Houve uma praga bacteriana que matou todas as pessoas excepto ele próprio que é imune à doença (ele pensa que foi devido a uma mordida de morcego nas suas viagens exóticas, whatever...). O problema principal é que muitas das pessoas que morreram tornaram-se zombies vampiros (falantes!), que deabulam pela noite à procura de sangue fresco (e se ele é de facto o único homem na terra, já devem andar com alguma fome).
Morgan prepara-se, todos os dias, para ser cercado por hordas de zombies nocturnos que tentam entrar na sua casa-forte.
De resto, os seus dias são passados a recolher cadáveres, a queimá-los (para que não se tornem zombies) e a ecolher comida e objectos vários. Ah!, e a matar zombies que encontra durante o dia.
Até que um dia encontra uma mulher não infectada, Ruth (Franca Bettoia). O que mudará depois desta descoberta?
Este filme, de orçamento reduzido, adapta o I Am Legend usando como actor principal uma outra lenda, o grande Vincent Price. Possui uma narrativa lenta mas que é adequada para dar a sensação de desolação do último homem, um cientista que se vê transformado num sobrevivente. Acho que o filme consegue transmitir um pouco do que seria a monotonia violenta de uma situação destas, quando a menor falha significa o descalabro e a morte. Um justo percursor do sucesso continuado que têm tido os zombies.
The Omega Man (1971)
No Omega Man o vírus foi lançado como arma biológica numa 3ª guerra mundial (um conflito que começa entre a China e a URSS). O coronel Robert Neville (Charlton Heston) é um cientista militar que trabalhava numa cura e, já bem dentro do colapso, acaba por experimentar uma vacina experimental que funciona: ele torna-se imune à doença. Só que é tarde demais, o mundo está a morrer.
Neville vagueia pelo dia, sozinho na cidade, até que encontra um grupo de jovens adultos e crianças que ainda não têm a doença (os velhos seriam mais susceptíveis a uma contaminação mais célere). E apaixona-se por uma dessas sobreviventes, Lise (Rosalind Cash). Com a perspectiva de não ficar sozinho, Neville decide fugir da cidade, levando todos, só que Lise tem um irmão a morrer e ele talvez tenha uma solução na sua casa...
Nesta versão, a cidade é ocupada à noite por sobreviventes da doença, e não zombies ou vampiros. Só que estes sobreviventes ficaram com um conjunto de marcas que os destinguem das pessoas normais: são albinos e, por isso susceptíveis à luz (não se percebe porque não andariam de dia tapados...) e sofrem de ilusões psicóticas. Eles são A Família, uma seita ludita, contra a tecnologia e a ciência. São o advento de uma nova era medieval e pregam uma religião contra o progresso (que afinal trouxe um Apocalipse biológico). Usam o fogo para limpar o pecado, queimando livros e eventualmente uma vítima ou outra. Eles representam a queda final da civilização, os bárbaros da nossa Roma redux. Perto do fim do filme, ouvimos Heston responder a Jonathan (Anthony Zerbe), o líder da seita, quando ele fala em reconstrução: "Build coffins. Is all you need".
O filme até tem boas intenções: (a) A moça que Heston se apaixona é negra (estamos nos anos 70 nos EUA, don't forget); (b) há uma preocupação referente ao aspecto anti-científico dos movimentos religiosos (que se tem vindo a agravar até níveis surreais na política actual americana); (c) as questões das armas de destruição massiva (o filme é produzido em plena guerra fria).
Mas, não há volta a dar, The Omega Man é muito fraquinho. Má representação, maus efeitos especiais (mesmo para a altura), buracos de argumento maiores que o deficit português, erros de edição (alguns cortes no filme que não foram corrigidos), a tentativa de colocar o personagem de Heston como um novo Messias (a crítica do filme não era precisamente contra este tipo de narrativa?).
Espero que o Charlton Heston não costumasse rir muito nos seus outros filmes, falta-lhe ali algum treino.
I am Legend (2007)
Robert Neville (Will Smith) é um cientista em NY que tenta encontra uma cura para a doença que limpou a cidade e o mundo. Ele é imune e foi capaz de sobreviver sozinho durante três anos. Diariamente envia mensagens rádio à procura de alguém ainda vivo. Nesta adaptação, aqueles que apanharam a doença e sobreviveram, foram mutados numa espécie de vampiros com força sobre-humana e extremamente perigosos. Enfim, de resto a história é a mesma.
Esta versão tem muito melhor produção, os efeitos especiais são capazes de transmitir o ambiente de forma muito mais eficaz e é um filme, no geral, muito bem equilibrado. O problema maior não é artístico mas sim ideológico, o filme é uma vítima dos sinais dos tempos. Por um lado, o fim do filme tem um cunho religioso que considero desnecessário. Este é um problema biológico que o personagem tenta (e consegue) resolver cientificamente. Fica a sensação que afinal tudo é um grande plano divino de recomeço (um novo tipo de diluvio) que não tem nada a ver com o resto do argumento. [spoilers] Pior ainda é o fim relativamente em aberto para a Humanidade. Os dois primeiros filmes, apesar de terem mudado o nome do título são capazes de manter a coerência do fim da novela: é ele, o caçador, o último dos homens, que se tornou a aberração. Uma nova sociedade, pior ou melhor, está a nascer e os homens e mulheres passadas nada mais são que um pesadelo passado do qual ele é o último eco, e, por isso, irá tornar-se uma lenda. Suponho que Hollywood é incapaz de deixar, hoje em dia, uma mensagem tão pessimista ao seu infantilizado target... Apareceu, creio que na versão DVD, um final alternativo que mostra, pelo menos, que a horda de vampiros tem uma estrutura social emergente, o que compensa um pouco o triste final oficial.
http://www.imdb.com/title/tt0058700/ (1964)
http://www.imdb.com/title/tt0067525/ (1971)
http://www.imdb.com/title/tt0480249/ (2007)
A novela descreve um mundo pós-apocalíptico após uma praga ter eliminado praticamente toda a população humana. A personagem principal é Robert Neville que vive em Los Angeles e procura sobreviver tanto na recolha de víveres no dia-a-dia, como a evitar a comunidade de vampiros que controla a cidade durante a noite. Ele de dia é caçador e os vampiros presas. De noite os papéis invertem-se. Este post tem como objectivo apresentar as três principais adaptações do I Am Legend (sim, há pelo menos mais um remake...). E não esquecer que esta obra serviu de inspiração ao clássico zombie de 1968, Night of the Living Dead, do padrinho dos zombies, George Romero.
Como curiosidade, Matheson também escreveu, entre outras obras, duas novelas que derivaram em dois filmes clássicos: The Incredible Shrinking Man de 1957 e Duel de 1971 (o primeiro filme de Spielberg).
The Last Man On Earth (1964)
Dr. Robert Morgan (Vicent Price) é, aparentemente, o último homem na terra. Houve uma praga bacteriana que matou todas as pessoas excepto ele próprio que é imune à doença (ele pensa que foi devido a uma mordida de morcego nas suas viagens exóticas, whatever...). O problema principal é que muitas das pessoas que morreram tornaram-se zombies vampiros (falantes!), que deabulam pela noite à procura de sangue fresco (e se ele é de facto o único homem na terra, já devem andar com alguma fome).
Morgan prepara-se, todos os dias, para ser cercado por hordas de zombies nocturnos que tentam entrar na sua casa-forte.
De resto, os seus dias são passados a recolher cadáveres, a queimá-los (para que não se tornem zombies) e a ecolher comida e objectos vários. Ah!, e a matar zombies que encontra durante o dia.
Até que um dia encontra uma mulher não infectada, Ruth (Franca Bettoia). O que mudará depois desta descoberta?
Este filme, de orçamento reduzido, adapta o I Am Legend usando como actor principal uma outra lenda, o grande Vincent Price. Possui uma narrativa lenta mas que é adequada para dar a sensação de desolação do último homem, um cientista que se vê transformado num sobrevivente. Acho que o filme consegue transmitir um pouco do que seria a monotonia violenta de uma situação destas, quando a menor falha significa o descalabro e a morte. Um justo percursor do sucesso continuado que têm tido os zombies.
The Omega Man (1971)
No Omega Man o vírus foi lançado como arma biológica numa 3ª guerra mundial (um conflito que começa entre a China e a URSS). O coronel Robert Neville (Charlton Heston) é um cientista militar que trabalhava numa cura e, já bem dentro do colapso, acaba por experimentar uma vacina experimental que funciona: ele torna-se imune à doença. Só que é tarde demais, o mundo está a morrer.
Neville vagueia pelo dia, sozinho na cidade, até que encontra um grupo de jovens adultos e crianças que ainda não têm a doença (os velhos seriam mais susceptíveis a uma contaminação mais célere). E apaixona-se por uma dessas sobreviventes, Lise (Rosalind Cash). Com a perspectiva de não ficar sozinho, Neville decide fugir da cidade, levando todos, só que Lise tem um irmão a morrer e ele talvez tenha uma solução na sua casa...
Nesta versão, a cidade é ocupada à noite por sobreviventes da doença, e não zombies ou vampiros. Só que estes sobreviventes ficaram com um conjunto de marcas que os destinguem das pessoas normais: são albinos e, por isso susceptíveis à luz (não se percebe porque não andariam de dia tapados...) e sofrem de ilusões psicóticas. Eles são A Família, uma seita ludita, contra a tecnologia e a ciência. São o advento de uma nova era medieval e pregam uma religião contra o progresso (que afinal trouxe um Apocalipse biológico). Usam o fogo para limpar o pecado, queimando livros e eventualmente uma vítima ou outra. Eles representam a queda final da civilização, os bárbaros da nossa Roma redux. Perto do fim do filme, ouvimos Heston responder a Jonathan (Anthony Zerbe), o líder da seita, quando ele fala em reconstrução: "Build coffins. Is all you need".
O filme até tem boas intenções: (a) A moça que Heston se apaixona é negra (estamos nos anos 70 nos EUA, don't forget); (b) há uma preocupação referente ao aspecto anti-científico dos movimentos religiosos (que se tem vindo a agravar até níveis surreais na política actual americana); (c) as questões das armas de destruição massiva (o filme é produzido em plena guerra fria).
Mas, não há volta a dar, The Omega Man é muito fraquinho. Má representação, maus efeitos especiais (mesmo para a altura), buracos de argumento maiores que o deficit português, erros de edição (alguns cortes no filme que não foram corrigidos), a tentativa de colocar o personagem de Heston como um novo Messias (a crítica do filme não era precisamente contra este tipo de narrativa?).
Espero que o Charlton Heston não costumasse rir muito nos seus outros filmes, falta-lhe ali algum treino.
I am Legend (2007)
Robert Neville (Will Smith) é um cientista em NY que tenta encontra uma cura para a doença que limpou a cidade e o mundo. Ele é imune e foi capaz de sobreviver sozinho durante três anos. Diariamente envia mensagens rádio à procura de alguém ainda vivo. Nesta adaptação, aqueles que apanharam a doença e sobreviveram, foram mutados numa espécie de vampiros com força sobre-humana e extremamente perigosos. Enfim, de resto a história é a mesma.
Esta versão tem muito melhor produção, os efeitos especiais são capazes de transmitir o ambiente de forma muito mais eficaz e é um filme, no geral, muito bem equilibrado. O problema maior não é artístico mas sim ideológico, o filme é uma vítima dos sinais dos tempos. Por um lado, o fim do filme tem um cunho religioso que considero desnecessário. Este é um problema biológico que o personagem tenta (e consegue) resolver cientificamente. Fica a sensação que afinal tudo é um grande plano divino de recomeço (um novo tipo de diluvio) que não tem nada a ver com o resto do argumento. [spoilers] Pior ainda é o fim relativamente em aberto para a Humanidade. Os dois primeiros filmes, apesar de terem mudado o nome do título são capazes de manter a coerência do fim da novela: é ele, o caçador, o último dos homens, que se tornou a aberração. Uma nova sociedade, pior ou melhor, está a nascer e os homens e mulheres passadas nada mais são que um pesadelo passado do qual ele é o último eco, e, por isso, irá tornar-se uma lenda. Suponho que Hollywood é incapaz de deixar, hoje em dia, uma mensagem tão pessimista ao seu infantilizado target... Apareceu, creio que na versão DVD, um final alternativo que mostra, pelo menos, que a horda de vampiros tem uma estrutura social emergente, o que compensa um pouco o triste final oficial.
http://www.imdb.com/title/tt0058700/ (1964)
http://www.imdb.com/title/tt0067525/ (1971)
http://www.imdb.com/title/tt0480249/ (2007)
Esqueci-me de referir este post que cita um artigo sobre cultos que refere The Omega Man
ResponderEliminarhttp://www.theofantastique.com/2011/01/13/joseph-laycock-omega-man-and-sociophobics-of-cults/