Cotton Marcus (Patrick Fabian) é um padre evangélico que seguiu as passadas do seu pai, cujo futuro passa por herdar a sua igreja e congregação. A profissão de pregador mantém a família de Cotton e é, essencialmente, o que ele sabe fazer desde pequeno.
O pai de Cotton aproveitou o seu filho pré-adolescente para o treinar na arte da retórica religiosa. E, desse modo, Cotton desde os 10, 12 anos, causou bastante furor na comunidade, atraindo e mantendo muitos fiéis seguidores.
Vemos estas imagens e ouvimos os detalhes da família de Marcus através de entrevistas e filmagens documentais. As imagens e sons estão a ser recolhidos por uma equipe de dois cineastas (imagem e som) que acompanham Cotton e conversam com ele. Desde muito cedo no filme que observamos Cotton a ser muito honesto à sua crença no que faz e na sua admissão que está mais perto de uma actor de teatro do que de um mensageiro de fé. Ou seja, ele aceita de forma cândida que é uma fraude, e que vive à custa da incredulidade do seu rebanho. Mais tarde percebemos, graças a uma experiência traumática que o fez mudar de perspectiva, que está determinado a deixar de ser pregador e seguir uma outra profissão.
Mas o objectivo do documentário não é esse. O que a equipe pretende é documentar um exorcismo ao vivo. Cotton e o pai são exorcistas também de profissão e recebem pedidos frequentes de vários locais do estado. Assim, sabemos que, mais cedo ou mais tarde, iremos acompanhar o último exorcismo do pregador Cotton Marcus.
Os filmes de exorcismos têm de viver sobre uma enorme sombra: o filme de William Friedkin, The Exorcist de 1973 é uma obra prima do Terror e um dos melhores filmes do género. Na verdade, foi o seu sucesso tão grande que quase secou esta temática, estando a ser lentamente recuperada, como foi no The Exorcism of Emily Rose de 2005, um filme competente, com boas cenas de exorcismo (mais uma vez de uma rapariga, não há nada a fazer com a avidez dos argumentis..., quero dizer, dos demónios) e com um final muito interessante. Este ano saiu um novo filme, com o Anthony Hopkins, The Rite, que ainda não vi (as críticas não são simpáticas). Bem, também há o Constantine... (mas podem esquecer este).
O género das possessões, que engloba os exorcismos (dado que a cada acto de exorcismo precede uma possessão, pelo menos em princípio), produz mais filmes e não foi tão afectado pelo sucesso d'O Exorcista. Alguns exemplos que vale a pena ver: Rosemary's Baby, The Omen, Audrey Rose, The Amityville Horror, Prince of Darkness, Fallen (um filme subvalorizado na minha opinião) ou Ninja III: The Domination (ok, ok, este foi só pelo título e por ter ninjas mortos com o poder de possuir mulheres!).
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The Last Exorcism é um FakeDoc, ao estilo de muitos outros desde a Bruxa de Blair (já aqui fiz uma lista sobre o assunto). A premissa do filme é bem conseguida e a maioria do enredo não parece muito forçado (talvez pela excepção de não terem chamado a polícia quando podiam). O filme consegue acumular a tensão que se inicia após o falhanço do primeiro exorcismo (que fora executado como farsa por Cotton, que interpretara a possessão da rapariga como um problema psicológico motivado pela clausura social e pressão esmagadora do pai dela).
No filme há uma crítica muito forte, implícita, a todo um tipo de actividade religiosa fraudulenta que usa e abusa da ignorância da multidão. Esta, pouco educada e cheia de superstições sobre demónios, fantasmas ou espíritos, é usada para fazer dinheiro e ganhar influência. Desde as intenções do pai de Cotton de impressionar o seu rebanho com as habilidades do filho (que teria sido visitado pelo Espírito Santo e que lhe dera o dom da palavra de deus de um dia para o outro...), à admissão de Cotton que o seu público engole qualquer coisa que ele lhe diga: logo no início do filme, ele aposta com a cineasta que consegue falar, durante a missa, de gelados de banana sem que ninguém ache estranho, ganhando a aposta e ainda recebendo como resposta uma série de améns.
Também vemos, no primeiro exorcismo na casa dos Sweetzer, os preparativos e os efeitos sonoros que Cotton esconde para impressionar o pai fanático. No enredo do filme, observamos a indústria de fazedores de fé que prospera, incólume, sob a ignorância dos seus fiéis. Na América actual, esta é uma importante mensagem política de um bastante razoável filme de Terror.
Imdb: http://www.imdb.com/title/tt1320244/
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