segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Valhalla Rising (2009)


These followers of the white Christ.
Bastards.
A much travelled man once told me that they eat their own God.
Eat his flesh, drink his blood.
Abominable.
One-Eye (Mads Mikkelsen) é um escravo de uma tribo de Vikings, durante o período de cristianização da Escandinávia (c. ano 1000 AD). É considerado tão perigoso que o tratam como o Hannibal Lecter, com correntes e amarrado por cordas, entre a sua jaula e o local do combate. Apenas um rapaz se aproxima dele, para lhe trazer comida, para o lavar e para desamarrá-lo antes da luta.
Sendo um excelente lutador, o chefe da tribo usa-o para ganhar dinheiro em lutas mortais, que One-Eye vence sempre.

Quando surge uma oportunidade, One-Eye consegue soltar-se e mata todos da escolta, excepto o rapaz que a partir daí o acompanha, sendo a sua voz no resto do filme (One Eye não fala, talvez seja mudo, talvez nada tenha para dizer).

Após um tempo de viagem, encontram um conjunto de Vikings cristãos que se preparam para viajar numa cruzada para a Terra Santa de Jerusalém. One Eye decide acompanhar o líder dos cruzados, seja pelas suas visões proféticas, seja pelas palavras que ouve:

We're more than flesh and blood.
More than revenge.
All of these things go.
You should consider your soul.
That's where the real pain lies.

O acto seguinte passa-se num barco, numa viagem mais mística que real. Por entre um nevoeiro infinito, onde o tempo, a fome e sede, o desespero atravessam os cruzados que se julgam já perdidos apesar da sua fé.

Finalmente, o barco sai do nevoeiro e chega a terra. Só que não é a Terra Prometida que se lhes depara, mas o Novo Mundo. E mesmo no Novo Mundo há erros antigos que sempre se podem repetir...

O realizador e argumentista dinamarquês Nicolas Winding Refn, depois do muito interessante Bronson, mais um vez releva-se como mais do que uma promessa do cinema do norte da Europa. Totalmente diferente de Bronson, Valhalla Rising é um filme fora do comum, silencioso, com imagens magníficas. A acção é lenta e demorada mas não aborrecida, há uma gestão do silêncio muito bem feita que destaca o pouco que é dito (o monólogo que começa este post é uma das maiores falas do filme). A Natureza e o mistério da fé são enormes, relegando os homens, miseráveis e ignorantes, à sua insignificância. O próprio personagem principal do filme não abre a boca uma única vez (bem, excepto quando é para morder adversários). As paisagens, repito, são belíssimas e acompanham de forma perfeita a travessia mais espiritual que geográfica de One Eye.





Valhalla Rising, na segunda parte do filme, faz-me lembrar Aguirre de Herzog na fotografia do The New World de Mallick. Inclui uma crítica à arrogância dos auto-proclamados arautos da cristandade (mais uma vez, como em Aguirre) e uma reflexão sobre as consequências do fanatismo. E tudo isto com Vikings! O que é possível querer mais de um filme?


Imdb: http://www.imdb.com/title/tt0862467/

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