sábado, 22 de janeiro de 2011

The Killer Inside Me (2010)

O personagem principal deste filme é Lou Ford (Casey Affleck), um rapaz texano, polícia, ajudante de xerife, respeitado numa pequena sociedade do Texas no fim dos anos 40. Não possuindo grande personalidade nem aparente iniciativa, faz as pequenas tarefas policiais que lhe mandam numa cidade já de si com poucos problemas.

Existe uma prostituta a exercer ofício nos arredores da cidade, Joyce Lakeland (Jessica Alba), que ofende o verniz dos bons costumes da sociedade. Quando é enviado para a expulsar, Lou acaba por envolver-se com ela. A relação entre os dois possui traços sadomasoquistas, onde ele exerce o domínio. Adiante no filme, percebemos que esta tendência em Lou deriva de uma experiência sexual da sua pré-adolescência e que, de alguma forma, talvez pelo estatuto social de Joyce, deixa de ser reprimida, começando a desenvolver-se.

À medida que o filme se desenrola percebemos que Lou Ford está envolvido em pequenos esquemas semilegais. Num deles, o principal magnata da cidade, Chester Conway (Ned Beaty), pede-lhe ajuda para que o filho, amigo de infância de Lou, consiga livrar-se da amante, nada mais que a própria Joyce Lakeland. Também percebemos que o meio-irmão de Lou, morto há vários anos, num acidente de trabalho, pode ter sido assassinado a mando de Conway. Isto porque fora acusado e preso por pedofilia por violação de uma menina de seis anos e, uma vez cumprida a pena, voltara para trabalhar na cidade natal. Mesmo assim, Ford aceita ajudar o filho de Conway.

Também conhecemos a namorada de Ford, Amy Stanton (Kate Hudson), uma moça respeitada socialmente, e cujo noivado é eminente.

Uma vez apresentadas as principais personagens nos seus primeiros 30 minutos, o filme passa para a sequência central do filme: o encontro entre Lou, Joyce e o filho de Conway. Este novo acto é inesperado pela violência que retrata (para alguns excessiva mas discordo) desencadeando uma segunda parte mais negra.

[spoilers]

The Killer Inside Me é um thriller sobre o despontar da loucura. Lou Ford é um psicopata em potência que se leva, pela sua fraqueza de carácter, a uma situação onde é obrigado a matar duas pessoas que gostam dele: a amante e o amigo. A partir daí, porque a situação não foi reflectida, não houve um plano (e isto ainda antes da ciência do CSI) ou um álibi pensado, Ford tenta corrigir os seus erros com erros ainda maiores, entrando numa instável espiral de violência. É apenas a pacata natureza da comunidade (onde a boa educação e o respeito são virtudes que nunca se devem perder) e o seu próprio passado de rapaz calmo e pouco inteligente (num mundo que muda pouco, é suposto as pessoas mudarem pouco), que permite que as suas acções cheguem tão longe. Cada vez que Ford tenta reparar um problema, todos os estranhos à sua volta não lhe dão opções, tendo que sacrificar os amigos, aqueles que nele confiam. Só que estes acabam depressa.

O filme é baseado numa novela de 1952 de Jim Thompson que esteve igualmente envolvido nos scripts do The Killing e Paths of Glory ambos filmes de Kubrick. Kubrick referiu-se à novela deste modo: "probably the most chilling and believable first-person story of a criminally warped mind I have ever encountered". A novela fora já adaptada num filme homónimo de 1976 onde Lou Ford foi representado por Stacy Keach (Prison Break, ER).

Todo o filme passa-se na perspectiva de Lou Ford e, de certa forma, dentro da sua interpretação da realidade. Tudo parece suspeitar dele, o que não pode corresponder inteiramente à verdade, tendo em conta o que ele foi capaz de fazer antes de ser descoberto. As duas mulheres, a amante e a noiva, gostam demasiado dele (para alguém que parece não gostar muito delas), os homens ou confiam ou desconfiam em excesso. Não parece haver meio-termo na realidade vista pelos olhos de Ford. Talvez seja essa a razão pelo filme conseguir fazer o espectador manter alguma empatia por este personagem desprezível. Não conseguimos deixar de ser testemunhas da sua realidade.

Um reparo final para Simon Baker (o Patrick Jane do The Mentalist). A sua personagem, um polícia dos Assuntos Internos, é praticamente idêntica à do mentalista, demasiado moderna para a época. Quase parece ter viajado no tempo, 60 anos para o passado, para investigar os assassinatos deste filme...

Um bom filme de 2010 subvalorizado pelo público.


Imdb: http://www.imdb.com/title/tt0954947/

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