segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Colossus (1970)

Colossus é um filme relativamente esquecido, do início da década de setenta, dentro da linha Skynet: o computador consciente que, após uns dois milissegundos de reflexão, descobre que os humanos são intelectualmente de uma pobreza franciscana e relativamente dispensáveis.
Ora, um computador pensante é um trabalho de assinalável engenharia e onde é possível falhar de um zilião de formas diferentes. Talvez por isso é que, sem grandes delongas, transferem para ele o controlo do arsenal nuclear para que ponha e disponha do destino da Humanidade. Como nos vários Terminator ou até no Dr.Strangelove de Kubrick, esta estratégia de acção não tende a correr lá muito bem para os personagens do respectivo filme.

Mas estou a adiantar-me.

O Dr. Charles Forbin (Eric Braeden), genial cientista americano, é responsável pelo projecto Colossus: a construção de um computador que faça a gestão do arsenal americano. Inicialmente o projecto era secreto mas, após a sua activação, o Presidente anuncia publicamente a sua existência garantido que agora os EUA e o mundo livre estão protegidos pela superior capacidade de análise e decisão de Colossus. Livre de emoções e inteiramente defensivo, o computador jamais seria capaz de iniciar um ataque aos comunistas mas, se atacado, responderia com eficiência inumana. O enorme sistema foi construído dentro de uma montanha e rodeado de inúmeros sistemas de segurança que garantem que ninguém o pode atacar nem sabotar.

Para ajudar à festa, o computador e o sistema que o suporta são totalmente auto-suficientes. Uma vez iniciado, as portas são fechadas não ficando ninguém dentro da montanha. A forma como comunica com os humanos é através de um centro de comando exterior (onde se desenrola a quase totalidade do filme). Isto é referido numa conferência de imprensa no início (cuja finalidade é expor as regras do jogo mental que se vai seguir). O Dr. Forbin assegura também que Colossus não é capaz de "pensamento independente", ou seja, não tem consciência. Mas é detentor de vasto conhecimento e pode aprender... A conferência termina com uma mensagem de optimismo, desejando uma nova era de paz e desenvolvimento. Toda a gente parece contente, apesar dos seus empregos terem-se tornado obsoletos (não esquecer: é um filme de ficção). O jogo do gato e do rato pode começar. Só falta determinar quem é o gato, o computador ou os humanos, apesar de não ser difícil adivinhar.

O mundo dos computadores é rápido e demora menos de um minuto até aparecer o primeiro problema. Existe um outro sistema. Colossus encontrou outro computador similar! Ah, e é Soviético. Chama-se Guardian, dizem os russos, e também só serve para fins defensivos.

Entretanto, ao mandar executar um protocolo que deveria demorar 1100 segundos, Colossus demora menos de 7. A aprendizagem e optimização do sistema, enquanto todos brindavam a um mundo sem problemas, estava já a desenrolar-se. Logo a seguir, Colossus pede (pede?) para estabelecer comunicação com o sistema adversário. Todos hesitam e evitam responder ao computador. Mas este insiste. Os humanos comandam que o pedido seja apagado e Colossus parece seguir a ordem. Porém, a curiosidade americana leva a melhor e abre-se um canal para os dois sistemas 'conversarem'. Segue-se uma cena muito interessante à lá Carl Sagan: para estabelecerem um protocolo de comunicação, uma linguagem comum, Colossus começa por enviar matemática trivial, a tabuada, e ao fim de uma hora está já a transmitir, a Guardian, teoria matemática até então desconhecida. Assustados, a equipa americana corta a ligação. E, a partir daqui, as coisas começam mesmo a derrapar...

Este filme é uma excelente digressão sobre as consequências da Inteligência Artificial, colocando a questão de forma muito directa: um computador consciente, com recursos suficientes, pode tornar-se milhares de vezes mais inteligente do que é possível com o cérebro do Homo Sapiens, um orgão que evoluiu para sobreviver na savana, não para compreender nem dominar a Natureza. O que nós fazemos com dificuldade, através da cultura, de uma aprendizagem prolongada, um sistema computacional poderia fazê-lo sem dificuldade e a uma velocidade milhões de vezes mais rápido. E não há complexos de paternidade, de origem, que nos protejam de uma mente assim.

O argumento é de James Bridges sendo baseado no primeiro livro de uma trilogia sobre o computador Colossus do inglês Dennnis Feltham Jones (Jones trabalhou na 2ª guerra mundial com computadores, conhecendo o Colossus, o sistema de desencriptação de Alan Turing e companhia em Bletchley Park).

Bridges foi autor de outro argumento de temática nuclear, The China Syndrome, filme famoso pelo impacto na política americana anti-nuclear muito graças ao activismo da actriz Jane Fonda que participou nesse filme, e cuja estreia em Março de 1979 ocorreu pouco antes do desastre nuclear de Three Mile Island.

Imagino que Colossus deverá, em parte, a sua existência ao sucesso de 2001. Também nesse filme o computador, o famoso HAL (a melhor luz vermelha do cinema), é igualmente a personagem central do enredo. HAL sofre uma patologia psicológica que faz divergir as suas 'emoções' para o assassinato da tripulação. Isso não acontece ao Colossus: ele limita-se a seguir uma inexorável lógica utilitária, desprovida de emoções humanas, sim, mas ninguém o pode criticar por isso: ele afinal não é humano.

Está a ser preparado um remake (infelizmente...). Citando a IGN.com:
Will Smith is set to collaborate with director Ron Howard on the forthcoming sci-fi feature The Forbin Project. According to Deadline, the film is a "contemporary Frankenstein story about the world's first sentient computer and the misunderstood genius who gains power over the world because of it." [...] Screenwriter James Rothenberg is apparently adapting, which will make him a busy man as he's just signed up to write a big-screen adaption of The Twilight Zone.
Este género de filmes encerra uma clara analogia à tensão diplomática da guerra fria, quando um conjunto mais ou menos discreto de cargos militares e políticos tinham, nas suas mãos, a destruição nuclear do nosso ecossistema. Felizmente, já vinte anos decorridos do seu término, as coisas não correram assim tão mal.

Moral desta(s) história(s)?
(c) Walt Kelly


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