sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

The Mist (2007)


Um dia após uma tempestade nocturna, numa pequena vila americana, um certo nevoeiro começa a pousar na região.

David Drayton (Thomas Jane: The Thin Red Line, The Punisher, Dreamcatcher) que habita nos arredores tem de ir ao centro da cidade por causa dos estragos que o vento e a chuva causaram. Acompanhado pelo seu peculiar vizinho Brent Norton (Andre Braugher: House MD, Salt), observam uma forte presença da polícia militar de uma base situada ali perto. Pouco depois, quando estão já no supermercado, entra alguém muito assustado a falar sobre o nevoeiro que se aproxima ("There's something in the Mist, don't go out there!"). O comportamento dele e a sua convicção leva a uma reacção automática de várias pessoas que decidem fugir para os seus carros.

Um deles, antes de entrar para o carro é coberto pelo nevoeiro e, de imediato, ouvem-se os seus gritos desesperados. Os que sobraram recuam para dentro do supermercado, fecham as portas e, em silêncio, deixam-se envolver na misteriosa neblina, cercados por algo desconhecido, perigoso, que nela se esconde.

O filme passa-se, quase até ao fim, num local fechado relativamente claustrofóbico (tendo em conta o número de pessoas lá presas) e joga muito bem com as tensões psicológicas dos seus personagens perante uma situação perigosa e inexplicável. O nevoeiro é um prenúncio de desgraça (como o era em The Fog de Carpenter) mas também serve para cancelar o nosso sentido mais importante: a visão. O facto de nos tornar quase cegos aumenta a proximidade com o desconhecido, tornando-o mais ameaçador (a noite faz algo de semelhante, não é de admirar o número de filmes de terror que se passam no escuro). Existem vários filmes que se desenrolam num edifício fechado, onde os personagens da história se vêem cercados por uma força inimiga (sobrenatural ou não), tais como Assault on Precinct 13 e The Fog (ambos de John Carpenter), Dawn of the Dead ou até o fraquito The Feast.

Os monstros no The Mist aparecem pela típica «falha espaço-temporal entre dimensões» óptima para trazer todo o tipo de monstruosidades e aberrações e a funcionar desde os tempos de H.P.Lovecraft (Cthulhu e amigos). É um mecanismo muito usado para explicar a presença dos maus da fita. Conferir os recentes Doom e os dois filmes na marca Dead Space para versões Sci-Fi do conceito (o Babylon 5 também usou a ideia num dos seus filmes menos conseguidos: Babylon 5: Thirdspace). Essencialmente é uma versão moderna da porta do Inferno, de onde saem demónios q.b. para que a narrativa avance para onde se quer (ah! neste caso, a culpa é dos militares...). De qualquer forma, os monstros estão bem feitos, nada de admirável na era CGI onde vivemos, mas não são o mais importante do filme.

O que marca a diferença neste filme é as reacções opostas das vitimas do cerco. Observamos o surgimento, grosso modo, de duas facções, uma religiosa, outra racional, e cuja interacção agrava-se com o tempo levando a uma ameaça interna que se compõe e torna-se ainda mais premente que a ameaça externa. Esta tensão é bem gerida ao longo do filme mostrando como um pensamento fanático irracional pode destruir qualquer tentativa de análise e diálogo, alimentando-se de tragédias, medos (apesar de, neste caso, existir matéria de facto para ter medo) e dos preconceitos mantidos pela ignorância, criando irremediavelmente uma distância para o «outro que não concorda connosco».

Um exemplo tirado do filme (já perto do fim):
- Don't you know by now? Don't you know the truth? We are being punished. For what? For going against the will of God! For going against his forbidden rules of old! Walking on the moon! Or... or splitting his atoms!
- Amen!
- Or... or... or stem cells and abortions! And destroying the secrets of life that only God above has any right to!
- Amen! Amen!
- And now we are being punished. The judgment is being brought down upon us. The fiends of hell, you see they are let loose, and star Wormwood blazes! And it is his fault!
- No! No! It is not my fault! No!
- They did it! They spit in the eye of the Almighty! Get over there! Judas! Kill him! String him up! Expiation! Stab him! Feed him to the beast!
Acho que já estão a ver o estilo.

Claro que sendo o filme americano de 2007 (a novela adaptada é dos anos 80), esta não pode deixar de ser uma crítica ao crescer de influência social que certos movimentos evangélicos cristãos possuem na sociedade americana. Quem estiver interessado neste tipo de questões sugiro o documentário Jesus Camp, um terrível exemplo de como se anda alegremente a destruir a cabeça de milhares de crianças cujo azar foi nascer com pais fanáticos.

Frank Darabont é um realizador conhecido pela sua capacidade de bem adaptar novelas de Stephen King, um dos mestres do terror. Já conta com três adaptações no seu currículo: The Shawshank Redemption, The Green Mile e The Mist. Curiosamente, The Mist é a primeira adaptação de uma história de terror, sendo as duas primeiras novelas dramáticas (apesar de Green Mile possuir traços de um sobrenatural americano tão típico de King). Esta sua primeira incursão no terror de King é, a meu ver, muito bem conseguida (o melhor depois do The Shining). Deve ter gostado do género porque já se pôs a realizar a fabulosa série de zombies The Walking Dead.

Fica aqui a sugestão de um bom filme de terror 100% americano (cada vez há menos).


Imdb: http://www.imdb.com/title/tt0884328/

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