sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Moon (2009)

O astronauta Sam Bell (Sam Rockwell: The Assassination of Jesse James, Heist, The Green Mile) encontra-se estacionado na Lua. Sozinho, num contracto privado de três anos pela Lunar Industries, mantém em funcionamento uma estação de recolha de Helium 3, o novo petróleo do século XXI.

A estação é praticamente automática e é gerida por um computador, GERTY (voz de Kevin Spacey: Se7en, American Beauty). Sam está lá para lidar com situações exteriores (os robots não parecem estar muito desenvolvidos) nomeadamente na recolha do He3 das máquinas que o extraem do solo lunar.


O trabalho de Sam é crítico mas com a repetição e o acumular do tédio, ele torna-se desatento, passa demasiado tempo em piloto automático. Os únicos momentos de contacto emocional ocorrem quando fala com a sua mulher Tess (Dominique McElligott) por videoconferência, mas mesmo assim em diferido, devido a uma avaria nos satélites de comunicação que impedem um diálogo entre os dois (situação que a companhia não parece muito interessada em resolver). Sam consegue lutar um pouco contra uma eventual situação depressiva por já faltar poucas semanas para o fim do contrato. GERTY é uma presença constante no dia-a-dia de Sam, sendo um pouco supervisor, colega e amigo.

Entretanto, o sistema avisa-o que uma das máquinas avariou-se e é necessário ir ao local resolver o problema. Só que Sam acaba por provocar um acidente e vê-se preso no meio da superfície lunar.



Fade out. Fade in.

Sam está de volta à estação lunar, deitado, ainda inconsciente. Quando acorda, GERTY informa-o de um acidente, mas ele diz-se amnésico. Como chegou ali?

Duncan Jones escreveu e realizou este excelente filme de Sci-Fi. Para mim, Moon, está no meu Top 10 de SciFi desta primeira década (bem, talvez não seja preciso muito para estar lá, mas possivelmente está no Top 5). Considerando o facto que é o seu primeiro filme, deixa-nos com grande expectativa para a sua próxima realização do género, o filme Source Code a estrear em 2011 (cf. trailer).

Moon é um filme de meios de produção relativamente simples. O orçamento de 5 milhões, em 2009, é quase nada para Hollywood. Infelizmente, só fez 10 milhões nos cinemas, o que também é quase nada e, a meu ver, é completamente inexplicável. O filme é Sam Rockwell, comprovando a sua qualidade de actor, sendo bem coadjuvado pela voz de Spacey. A banda sonora de Clint Mansell é competente apesar de estar a anos-luz das suas incriveis bandas sonoras para os filmes The Fountain e Requiem for a Dream ambos de Darren Aronofsky. Os efeitos especiais são muito seguros, muito contidos, mas muito bonitos. Nunca se viu uma superfície lunar tão bela.

[spoilers]

Já nos assuntos que toca, Moon é muito interessante.

O principal assunto do filme, a meu ver, é a questão dupla da personalidade e da identidade. A questão dos clones força-nos a reflectir sobre o que é ser eu, o que fundamentalmente podemos dizer que é único em nós. Dois clones possuem o mesmo ADN (ok, também os gémeos monozigóticos). Mas neste filme, os clones possuem a mesma personalidade e as mesmas memórias referentes a um dado momento da sua história pessoal. Quando Sam4 (o Sam do início do filme) acordou, ele era igual ao Sam5 quando este acordou. Aqui a coisa fia mais fino. O que faz a diferença entre Sam4, Sam5 e o Sam1, o Sam original? É verdade que foi o Sam1 que casou com Tess, que experimentou as memórias que os clones partilham, que foi formado e recebeu treino de astronauta. Mas alguém não pode ter menos direitos, ser considerado inferior, meramente pela qualidade das suas memórias. Que garantias temos nós da qualidade das nossas? É sabido que as memórias são uma ficção continuamente trabalhada pela mente, e o que achamos ter vivido vai perdendo correspondência com que aconteceu de facto. A nossa memória é, em si, um teatro, uma ficção trabalhada pela mente para limar os defeitos e derrotas e fazer sobressair virtudes e vitórias. Não podemos definir um ente consciente e racional (e os clones de seres humanos são seres humanos) pelo seu passado mas sim pelas suas capacidades cognitivas. O principal filme que foca esta questão é, claro, Blade Runner (onde a igualmente pequena esperança de vida dos andróides faz também aí reforçar esta problemática).

A empresa do filme, mantém em regime de escravidão, um conjunto de pessoas que partilham uma personalidade inicial. Faz-me lembrar a velhinha Wesley-Yutani mas trocando os aliens por clones (o Ridley Scott está por todo o lado!). Esta actividade, nos ecos do fim do filme, percebe-se que é ilegal levando a empresa a defender-se legalmente e a perder dinheiro. A experiência que esta actividade igualmente imoral nos dá, é observar como a nossa ideia de personalidade é fluida. Gostamos de nos ver como um bloco mais ou menos constante que atravessa a vida. Mas, é muito provável que deixássemos de pensar assim se pudéssemos falar com nós próprios há 10 ou 20 anos atrás. Sam4 é irascível, está cansado, perdeu toda a paciência que Sam5, mesmo agora renascido, possui. As condições externas -- principalmente a solidão que Sam4 carrega -- mudam-nos, por vezes, de uma forma brusca e violenta. Uma pessoa não é tanto função de uma invariante psicológica mas sim de uma trajectória que evolui com o tempo e com as circunstâncias. E, creio, o filme cria-nos uma situação para que possamos presenciar isso mesmo.

Falta GERTY. Este software, e qualquer outro no universo dos filmes, terá sempre de viver à sombra do conhecido HAL 9000 (este filme faz-nos lembrar 2001 por isso, como pela solidão, perigo e indiferença do espaço). Mas neste caso, GERTY é o psicólogo que não se torna o psicopata de serviço. GERTY parece possuir emoções esquemáticas, deixando-se convencer por Sam em ultrapassar alguns dos protocolos que era suposto obedecer. GERTY toma a decisão de acordar a versão seguinte de Sam, Sam5, mas o filme não fornece informação suficiente para explicar essa iniciativa. GERTY parece estar a justificar-se à central quando Sam5 quase o surpreende. Lembrar que Sam acha que é impossível comunicar directamente com a terra por avaria dos satélites, e qualquer comunicação entre o GERTY e a empresa é um acto perigoso para a estabilidade emocional do clone de serviço. Ou seja, é admissível que GERTY tenha desenvolvido uma ligação emocional com os diversos clones que acompanha. Se Sam4 era o 4º clone, então este processo já teria, pelo menos, 12 anos (e o serão 12 anos para uma máquina que realiza ziliões de operações por segundo?). Quando Sam5 combina com GERTY que irá reiniciar a sua programação, para GERTY não se lembrar do que aconteceu (e não se ver forçado a dizer o que aconteceu), GERTY não discorda, aceita que é um passo necessário para que o seu amigo seja salvo. GERTY diz-lhe "I hope life on Earth is everything you remember it to be". E quando GERTY diz-lhe que, de seguida, tudo voltará ao normal com a ajuda do novo Sam6, Sam5 diz-lhe talvez a linha mais importante do filme:

Gerty, we're not programmed. We're people. Understand?


Imdb: http://www.imdb.com/title/tt1182345/

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Dead Island (VG 2011)

Não é um filme de zombies mas um jogo que vai sair este ano. Porém, pode ser visto como uma curta muito bem concebida e original.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Henry: Portrait of a Serial Killer (1986)

O filme começa com uma espécie de currículo de um assassino. Um conjunto de cadáveres femininos, dispostos de formas distintas, mortes diversas, nelas uma insinuação de abuso sexual. É-nos apenas apresentado o quadro final, imóvel, restando dos actos ecos sonoros, quase indistintos, do que aconteceu.


Henry (Michael Rooker: Mississippi Burning, The Walking Dead) é um zé-ninguém, com cadastro criminal e pouco dinheiro mas cuja actividade principal é matar indiscriminadamente. Percorre as ruas num carro velho à procura de uma fraqueza, de uma mulher isolada, da sua oportunidade de caça.


Henry faz trabalhos avulsos para obter algum dinheiro e partilha um apartamento com Otis (Tom Towles: The Devil's Rejects, NYPD Blue) que conheceu na prisão. Otis, em liberdade condicional e também sujeito a trabalhos ocasionais, foi buscar ao aeroporto a sua irmã Becky (Tracy Arnold), fugida de uma relação amorosa falhada e violenta, que decidiu tentar a sua sorte em Chicago, a cidade onde Henry e Otis vivem.

Becky vai morar com ambos e começa a simpatizar com a personagem aparentemente calma e recatada de Henry, cuja estabilidade emocional sabemos já ser, no mínimo, duvidosa. Becky, como parte de uma família muito disfuncional (por exemplo, há uma tensão sexual de Otis em relação à irmã), interpreta mal os problemas de Henry, e começa a forçar uma aproximação mais íntima.

Por uma questão fortuíta, Otis e Henry matam um comerciante e Henry inicia Otis no seu vício de morte. O filme prepara-nos para o começo de uma espiral de violência que deixará marcas irreversíveis nas relações daquelas três pessoas.

Realizado por John McNaughton (que realizou Push, Nevada, uma série inspirada em Twin Peaks e prematuramente cancelada) com um orçamento mínimo e o objectivo culturalmente elevado de «fazer um filme de monstros com muito sangue» a pedido da produção. Apesar disso, foi capaz, juntamente com o argumentista Richard Fire, de fazer um belíssimo filme de serial killers. Este filme é baseado num assassino real, Henry Lee Lucas.

A noção de serial killer é uma fenda na vida segura e racional das democracias modernas. Podemos proteger-nos de diversas formas de assaltos a casas ou a carros. Sabemos que se andarmos com poucos sinais exteriores de riqueza e escondermos as nossas posses, podemos minimizar este tipo de problemas. Sabemos que se não andarmos por zonas mais violentas ou isoladas é mais difícil nos acontecer algo de mal. No fundo há em nós uma crença que se controlarmos as causas mais típicas que levam ao crime, estamos relativamente protegidos. porque evitamos os motivos do crime. No entanto, um serial killer é um agente com uma motivação própria, sem razão aparente, tornando qualquer um, um potencial meio para os seus fins.

Apesar disso um serial killer tem um MO, um modus operandi, ele segue uma qualquer bizarra e obscura narrativa que internamente faz sentido. Num serial killer (pelo menos segundo os profilers e os escritores do género) ainda há, assim, uma racionalidade escondida, algo que podemos descobrir para sabermos se somos alvos do seu acto predatório ou até mesmo para o capturar. Por um lado, isto é natural porque o ser humano procura padrões mesmo onde eles não existem. Seja o assassino, seja o polícia que o pretende capturar, seja o jornalista ou cineasta que o quer entender, há sempre uma tendência para racionalizar a sequência de mortes que se lhes depara. No caso do serial killer isso pode transparecer num ritual que serve de assinatura; para o profiler existe a psicanálise ou o mastigar de dados estatísticos (que, no mundo real, não produz resultados mas, enfim, no cinema temos o conforto do «parece que funciona»).

No caso de Henry, isso não acontece. Ele deliberadamente percebe essa ânsia pelo padrão das forças da lei, e vai exactamente no sentido inverso. Ela mata sempre de forma diferente, com armas diferentes, tentando nunca se repetir. O que lhe interessa é o acto de matar. Não estão apenas em perigo um determinado tipo de mulheres. Ele mata homens também. Ele mata pessoas sem planear nada, num dado momento, sem pré-aviso, quando lhe apetece. E isso é ainda mais aleatório, mais assustador. Lembro-me de apenas um outro filme que refere um serial-killer assim, Suspect Zero (2004), mas onde a presença do assassino se remete para o pano de fundo da narrativa. Aqui, Henry é o personagem principal.

Pressentimos em Henry que existem traumas de infância, ou pelo menos a necessidade dele de acreditar nisso. Henry diz a Becky que matou a mãe (como dissera a Otis, na prisão), mas contradiz-se três vezes na forma como a matou. Assim, como ter certeza deste facto? Ou que a mãe lhe causou os referidos traumas? Talvez seja a forma de Henry racionalizar parte do seu comportamento formulando um rascunho de biografia nunca concluído. Apesar disso, não se lhe nota qualquer hesitação, qualquer problema moral em matar repetidamente. Uma das cenas mais arrepiantes, a fazer lembrar A Laranja Mecânica de Kubrick, é quando Henry e Otis filmam-se a matar uma família e depois vêm e revêm em casa a odiosa filmagem na televisão obrigando o espectador a ser também plateia deste filme dentro do filme (e aqui reside uma possível crítica ao facto deste tipo de narrativa ser usado como diversão pela indústria do cinema; ou até para escrever postas em blogues, coff coff).
O facto de termos um serial killer como personagem principal é raro no cinema. Depois da estreia de Dexter, este facto não parece tão original, mas convém lembrar que o filme é de 1986, vinte anos antes da série com Michael C. Hall a personificar o simpático assassino de serial killers de Miami. Anterior a Henry posso apontar clássicos como Psycho (1960), com o famoso Norman Bates, The Night of the Hunter, com uma exibição memorável de Robert Mitchum, a excelente comédia negra Arsenic and Old Lace (1944) de Frank Capra com Cary Grant, o muito bom Peeping Tom (1960) de Michael Powell ou L'assassin habite... au 21 (1942) do Hitchcock francês, Henri-Georges Clouzot (vejam os filmes dele que não se arrependem). Deixo ainda o conselho para verem um bom filme holandês de 1988 chamado Spoorloos (que sofreu um remake americano, com Kiefer Sutherland, chamado The Vanishing; normalmente quando Hollywood faz um remake é sinal para se ir ver o original e esquecer o remake...). Querem outro exemplo? Funny Games (1997) de Haneke, um filme arrepiante deste género também com remake americano. Ah! E não se esqueçam do primeiro filme com o Hannibal Lecter, Manhunter de Michael Mann e também de 1986.

Hoje em dia é muito comum a temática do serial killer tanto em filmes (Silence of the Lambs, Se7en, American Psycho, Zodiac etc.) como em séries (os dois primeiros anos do excelente Millenium de Chris Carter e com o grande Lance Henriksen, o assim-assim Criminal Minds, a excelente e misteriosa personagem chamada Red John na série mediana The Mentalist). Mas há escassas duas décadas ainda era uma pedrada no charco. Henry demorou quatro anos a ser distribuído, tendo a sua estreia ocorrido apenas em 1990. Isto costuma ser um sinal que o filme em questão é culturalmente interessante.



Imdb: http://www.imdb.com/title/tt0099763/

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Trolljegeren, aka, The Troll Hunter (2010)

Um grupo de estudantes de cinema vão investigar uma série de mortes misteriosas de ursos para fazer um documentário. Várias pessoas indicam um caçador que todos que é o culpado (Otto Jespersen), alguém que dorme de dia e passa todas as noites fora do parque de campismo. Os jovens tentam perguntar-lhe o que se passa, mas ele nada responde e diz-lhes para se irem embora. O caçador vive num roulote e é muito reservado. O jipe mostra marcas estranhas que não parecem ser de ursos.


Tudo isto estimula a curiosidade dos futuros cineastas e decidem segui-lo quando, de repente, se vai embora. Quando o caçador chega a um novo local, chegada a noite, parte novamente para destino incerto. O grupo segue-o até uma mata isolada e, pouco depois, perde-o de vista. Pouco tempo depois, vêem-no a correr e a gritar «TROLL». Os jovens não o percebem de imediato mas não demora muito tempo para que o grito comece a fazer sentido!




Felizmente, os trolls apesar de serem pró grandinho têm a sua kripnotite, a luz ultravioleta:

[spoilers] Trolljegeren pretende ser um documentário sobre uma teoria da conspiração do estado norueguês para encobrir a existência de populações de trolls, criaturas da lendas nórdicas que afinal têm uma origem factual. Segue um pequeno excerto de um site dedicado aos trolls que descreve um pouco desta mitologia:
In the mountains, of which there were many, lived the trolls. The chief of them all was Dovregubben [Mountain King]. Some of the trolls were extremely large, while others could be really small, and they were all very old. They were only to be seen at night, or at dusk, because such creatures of course did not tolerate the light of day. If they did not get into the mountains before the sun shone they cracked or turned to stone. The trolls were like people, but had only four fingers on each hand and four toes on each foot. Otherwise they all had long noses (troll wives often used their noses to stir the cooking pot when they made soup or porridge), they were shaggy and roughhaired, and every one of them had a tail which resembled a cow's rump.
Claro que o filme é mais direccionado para a Noruega (até os trolls da Suécia, ao que parece, são diferentes) mas o realizador preocupou-se em descrever, com suficiente detalhe, o ciclo de vida destes inesperados animais. Eu não sabia absolutamente nada de trolls excepto o que vi no Lord of the Rings, e não reparei que me faltasse ser norueguês para seguir o filme. Aliás, sendo Otto Jespersen, o caçador, um actor famoso na Noruega, e tendo o filme a participação de vários actores cómicos nacionais, faz com que se perca um pouco do realismo que pretende ser transmitido (teria sido melhor escolher actores anónimos para todos os papéis). Já os não noruegueses não têm este problema.

O filme não se decide entre considerar os trolls como animais sobrenaturais ou naturais. Por um lado, eles cheiram cristãos (!) e o caçador avisa o grupo que nenhum deles pode acreditar em deus e Jesus (efeitos talvez da alergia que ainda provoca a OPA que a Cristandade fez aos deuses nórdicos há uns 1000 anos atrás: certas coisas que não se esquecem...). E de facto, essa alergia cristã existe no filme o que seria um belo desafio para os métodos da ciência. Por outro lado, discute-se que o efeito da luz sobre os trolls é devido a efeitos da radiação sobre o organismo e que blá, blá blá. Claro que esta indecisão pode ser propositada, já que há pessoas (no filme, esse papel é representado pela veterinária) tentariam sempre racionalizar um aspecto mágico num mundo onde não é suposto existir magia (eu incluído).

O filme merece ser visto por quem gosta de Terror e de fake docs mas não é nada de extraordinário. No entanto é sempre bom expandir a galeria de monstros clássicos, porque há algum excesso de vampiros nos media e os lobisomens lamentavelmente são um pouco repetitivos. Seria refrescante ver uns filmes com Gárgulas ou com Golems, por exemplo. Enquanto esperamos deixo a sugestão para verem um clássico seminal do Terror: Der Golem de 1920.

Outra característica porreira do filme é passar-se na Noruega, um país lindíssimo que tive a feliz ideia de visitar graças ao interrail e que um dia hei-de lá voltar (Douglas Adams, o escritor de Hitchhiker's Guide to the Galaxy, refere nesse livro que o designer planetário responsável pelos Fjords ganhou um primeiro prémio pelo excelente trabalho :-)







Imdb: http://www.imdb.com/title/tt1740707/

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Os Primos da Bruxa de Blair

O filme The Blair Witch Project obteve um sucesso mediático sem precedentes, em 1999, baseado numa campanha viral muito inteligente, insinuando que o filme era na verdade um rough cut de um documentário que nunca chegou a ser realizado devido ao misterioso desaparecimento dos respectivos cineastas. Um orçamento de 60 mil dólares gerou mais de 140 milhões. Acabara de nascer um novo filão de filmes de terror.

Deixo aqui algumas sugestões interessantes de filmes inspirados no Blair Witch (hei-de escrever mais aqui no Mr.Red sobre alguns destes filmes).

Im Memorium é um filme amador muito bem construído. Típico «casa assombrada habitada por jovens adultos» mas o argumento é dos melhores do género porque consegue dar um motivo credível para que os personagens principais não fujam dali a sete pés. Apesar de alguns actores serem muito fraquinhos, o casal consegue ser convincente e a história entrega os sustos com alguma eficiência. Pode ser visto online via o indieflix (custa menos de 5 euros uma exibição) e parece-me que vale metade de um almoço. http://www.imdb.com/title/tt0491777/

Rec é um filme espanhol de uma indústria que tem vindo a produzir vários filmes de terror de qualidade (e digo isto com alguma inveja dos nossos vizinhos...). Este é um filme profissional e percebe-se na qualidade da história e dos efeitos especiais. Passado num edifício fechado ao exterior e recheado de zombies. A ver! http://www.imdb.com/title/tt1038988/

The Poughkeepsie Tapes é um «documentário» com uma premissa diferente, é filmado pela própria fonte do terror, neste caso os arquivos vídeo de um serial killer e das experiências com as suas vítimas. Seria chato se fosse verdade... http://www.imdb.com/title/tt1010271/

Cloverfield é o filme com maior produção desta lista, uma variante de Godzilla com esteróides em formato documentário. Este é um filme que pretendo escrever com mais detalhe. De qualquer forma, se não o viram, não percam um dos melhores filmes americanos de Terror da década passada. http://www.imdb.com/title/tt1060277/

Pode-se observar como este género se tornou mainstream quando até o paizinho dos zombies modernos, George A Romero, se põe a filmar desta forma (apesar de estar a perder a forma a um ritmo preocupante e não é Diary of the Dead que desmente a tendência). Anyway... mais zombies!!! http://www.imdb.com/title/tt0848557/

Lake Mungo é outro filme de casa assombrada que parece promissor. Ainda não o vi mas vem recomendado pelo Planet of Terror. http://www.imdb.com/title/tt0816556/

The Last Exorcism é outra tentativa de abordar os filmes de exorcismo mas o Exorcista não dá hipótese. De qualquer forma é um filme bem feito com uma perspectiva diferente do fenómeno. Se tiver paciência hei-de também falar sobre este filme com mais detalhe. Mas fica desde já o conselho para reservarem 87 minutos do vosso tempo livre (ou preso, tanto faz). http://www.imdb.com/title/tt1320244/

O próximo post vai ser dedicado a outro filme deste género, mas em vez de fantasmas, zombies, monstros gigantes ou demónios pedófilos, veremos um tipo de monstro clássico muito pouco usado no cinema.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

The Mist (2007)


Um dia após uma tempestade nocturna, numa pequena vila americana, um certo nevoeiro começa a pousar na região.

David Drayton (Thomas Jane: The Thin Red Line, The Punisher, Dreamcatcher) que habita nos arredores tem de ir ao centro da cidade por causa dos estragos que o vento e a chuva causaram. Acompanhado pelo seu peculiar vizinho Brent Norton (Andre Braugher: House MD, Salt), observam uma forte presença da polícia militar de uma base situada ali perto. Pouco depois, quando estão já no supermercado, entra alguém muito assustado a falar sobre o nevoeiro que se aproxima ("There's something in the Mist, don't go out there!"). O comportamento dele e a sua convicção leva a uma reacção automática de várias pessoas que decidem fugir para os seus carros.

Um deles, antes de entrar para o carro é coberto pelo nevoeiro e, de imediato, ouvem-se os seus gritos desesperados. Os que sobraram recuam para dentro do supermercado, fecham as portas e, em silêncio, deixam-se envolver na misteriosa neblina, cercados por algo desconhecido, perigoso, que nela se esconde.

O filme passa-se, quase até ao fim, num local fechado relativamente claustrofóbico (tendo em conta o número de pessoas lá presas) e joga muito bem com as tensões psicológicas dos seus personagens perante uma situação perigosa e inexplicável. O nevoeiro é um prenúncio de desgraça (como o era em The Fog de Carpenter) mas também serve para cancelar o nosso sentido mais importante: a visão. O facto de nos tornar quase cegos aumenta a proximidade com o desconhecido, tornando-o mais ameaçador (a noite faz algo de semelhante, não é de admirar o número de filmes de terror que se passam no escuro). Existem vários filmes que se desenrolam num edifício fechado, onde os personagens da história se vêem cercados por uma força inimiga (sobrenatural ou não), tais como Assault on Precinct 13 e The Fog (ambos de John Carpenter), Dawn of the Dead ou até o fraquito The Feast.

Os monstros no The Mist aparecem pela típica «falha espaço-temporal entre dimensões» óptima para trazer todo o tipo de monstruosidades e aberrações e a funcionar desde os tempos de H.P.Lovecraft (Cthulhu e amigos). É um mecanismo muito usado para explicar a presença dos maus da fita. Conferir os recentes Doom e os dois filmes na marca Dead Space para versões Sci-Fi do conceito (o Babylon 5 também usou a ideia num dos seus filmes menos conseguidos: Babylon 5: Thirdspace). Essencialmente é uma versão moderna da porta do Inferno, de onde saem demónios q.b. para que a narrativa avance para onde se quer (ah! neste caso, a culpa é dos militares...). De qualquer forma, os monstros estão bem feitos, nada de admirável na era CGI onde vivemos, mas não são o mais importante do filme.

O que marca a diferença neste filme é as reacções opostas das vitimas do cerco. Observamos o surgimento, grosso modo, de duas facções, uma religiosa, outra racional, e cuja interacção agrava-se com o tempo levando a uma ameaça interna que se compõe e torna-se ainda mais premente que a ameaça externa. Esta tensão é bem gerida ao longo do filme mostrando como um pensamento fanático irracional pode destruir qualquer tentativa de análise e diálogo, alimentando-se de tragédias, medos (apesar de, neste caso, existir matéria de facto para ter medo) e dos preconceitos mantidos pela ignorância, criando irremediavelmente uma distância para o «outro que não concorda connosco».

Um exemplo tirado do filme (já perto do fim):
- Don't you know by now? Don't you know the truth? We are being punished. For what? For going against the will of God! For going against his forbidden rules of old! Walking on the moon! Or... or splitting his atoms!
- Amen!
- Or... or... or stem cells and abortions! And destroying the secrets of life that only God above has any right to!
- Amen! Amen!
- And now we are being punished. The judgment is being brought down upon us. The fiends of hell, you see they are let loose, and star Wormwood blazes! And it is his fault!
- No! No! It is not my fault! No!
- They did it! They spit in the eye of the Almighty! Get over there! Judas! Kill him! String him up! Expiation! Stab him! Feed him to the beast!
Acho que já estão a ver o estilo.

Claro que sendo o filme americano de 2007 (a novela adaptada é dos anos 80), esta não pode deixar de ser uma crítica ao crescer de influência social que certos movimentos evangélicos cristãos possuem na sociedade americana. Quem estiver interessado neste tipo de questões sugiro o documentário Jesus Camp, um terrível exemplo de como se anda alegremente a destruir a cabeça de milhares de crianças cujo azar foi nascer com pais fanáticos.

Frank Darabont é um realizador conhecido pela sua capacidade de bem adaptar novelas de Stephen King, um dos mestres do terror. Já conta com três adaptações no seu currículo: The Shawshank Redemption, The Green Mile e The Mist. Curiosamente, The Mist é a primeira adaptação de uma história de terror, sendo as duas primeiras novelas dramáticas (apesar de Green Mile possuir traços de um sobrenatural americano tão típico de King). Esta sua primeira incursão no terror de King é, a meu ver, muito bem conseguida (o melhor depois do The Shining). Deve ter gostado do género porque já se pôs a realizar a fabulosa série de zombies The Walking Dead.

Fica aqui a sugestão de um bom filme de terror 100% americano (cada vez há menos).


Imdb: http://www.imdb.com/title/tt0884328/